quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O Cortiço


Não me é fácil falar deste restaurante e os motivos são vários, como não sou grande escritor tenho receio que falhe algum pormenor importante a este templo de autêntica cozinha antiga. Muito de vós conhecem o Cortiço, aliás a sua reputação chega mesmo a ultrapassar as “fronteiras” do nosso país e portanto peço desde já as minhas humildes desculpas por alguma falha entretanto detetada. Viseu tem como um dos seus ex liberes este simpático restaurante, situado bem no coração da Zona Histórica, mais concretamente na Rua Augusto Hilário perto da Sé e do belíssimo Museu Grão Vasco. Nas paredes estão espelhados pedaços de história desde o seu fundador Dom Zeferino até aos tempos de hoje e dos vários clientes que quiseram deixar o seu testemunho pessoal. As salas são muito pequenas, claramente insuficientes para a quantidade de pessoas que acorre a este local de culto e presumo que seja complicado alargar muito mais o espaço, de tal ordem que o Cortiço dispõem de uma sala do outro lado da rua. Não se surpreendam portanto se ao passear naquele lugar virem um empregado atravessar de forma apressada de um lado para o outro. De referir que o atendimento é muito profissional, simpático e elegante, mas ao mesmo tempo informal e discreto.
Falemos então do cardápio. Sou uma pessoa fácil no que diz respeito a comer, mas se de entrada me oferecerem enchidos sou derrotado facilmente. A morcela e a chouriça frita são no Cortiço uma autêntica perdição. Com o tempo mais quente o restaurante opta também por um sempre apetecível melão com presunto, pois os mais “esquisitos” gostam de comer coisas mais frescas e menos pesadas no Verão. Tudo isto acompanhado com um pão caseiro magnifico e um queijo tipo serra maravilhosamente derretido. Relativamente aos pratos a decisão é penosa, pois todos eles são bons, urge portanto ir mais vezes para experimentá-los com a devida dedicação. Contudo destacaria 2 pratos de peixe e 4 pratos de carne. O bacalhau podre apodrecido na Adega e o polvo frito tenrinho com manteiga. O polvo assume um papel muito importante nesta região, em muitas Ceias de Natal este molusco é um dos pratos tradicionais colocado nas mesas. Em ambos os casos o sucesso de uma boa refeição é garantido. Em relação às carnes temos, Rojões com Morcela, Cabrito Assado no Forno, Coelho bêbado três dias em vida e Arroz de carqueja (arbusto muito comum na zona da Beira Alta). Infelizmente este vosso pobre “blogueiro” encontra poucas palavras para descrever a qualidade destes pratos, desde a escolha da matéria-prima até à sua confeção. Para acompanhar esta bela refeição beber por favor um vinho tinto da região e as opções são várias já que a região do Dão tem vinhos muito bons, ou então podem optar pelo vinho da casa que vem num jarro muito engraçado.. Nas sobremesas recomendo vivamente o toucinho-do-céu, uma autêntica delícia, ou então as farófias.

Restaurante – O Cortiço
Morada – Rua Augusto Hilário, 43-47 em Viseu – perto da Sé e do Museu Grão
Tipo – Cozinha Antiga Portuguesa
Preço – Moderado alto entre 17,00€ a 28,00€ por pessoa
Observações – Convém fazer reserva.

Luís Sá

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Marisqueira Ribamar











 
Ao contrário do meu amigo António Fantasia eu adoro peixe e confesso que numa guerra entre carne e peixe, em muitos casos, o último ganha claramente o desafio, especialmente se for no Verão. Se falarmos em marisco a pergunta nem se coloca, embora os preços que normalmente são praticados com este tipo de refeição, nos façam inclinar para outros petiscos.
Tudo isto vem a propósito de um restaurante que me foi dado a conhecer pela minha namorada, a Marisqueira Ribamar a primeira por sinal nesta simpática localidade muito perto da Ericeira, mais concretamente na Estrada Nacional que liga a simpática vila do Surf a Torres Vedras. Casa tipicamente familiar, passando dos pais para filhos e restante família e se formos lá mais do que uma vez (o que é o meu caso), tornamo-nos parte da mobília (sendo que neste caso não me importava de ser o aquário que alberga algumas lagostas maravilhosas!). O restaurante apesar de existir desde 1972, sofreu algumas obras recentes que lhe dão um ar moderno, suave e discreto. Mal abrimos a porta deparamo-nos à nossa direita com a montra do marisco. Há para todos os gostos, camarão, ameijoa, mexilhão, percebes, navalhas, búzio, ostras entre outras delícias gastronómicas, que além de poderem ser usufruídos ali, podemos também levar para casa. Do lado esquerdo temos o tal aquário com lagostas e sapateiras. Depois de inspecionado o local, dirigimo-nos para a sala de refeições. Espaço agradável, não muito grande mas com muita luz graças às suas janelas com vista para o mar. Se não lhe apetecer comer marisco por si só, o Arroz do mesmo ou a Feijoada são boas alternativas sendo esta última muito do meu agrado. Em relação ao arroz, não é uma deceção, mas também não faz a diferença. O marisco assume portanto o papel principal, desde as ameijoas à bulhão pato, divinais no seu tempero e frescura, mexilhões ao natural ou à espanhola (sublimes), camarão cozido com ou sem maionese, percebes fresquíssimos, sapateira com um recheio muito simples, mas saborosíssimo. Finalizamos esta parte da refeição com um creme de marisco, picante q.b. e com um sabor muito apurado. Se quiser pode também fazer um “mix de mariscos” e as alternativas são várias, na variedade e nos preços (ver site). Tudo isto acompanhado com um bom vinho branco ou verde gelado e um pão torrado.
As Sobremesas têm para mim uma importância vital numa refeição. Infelizmente sou um “pecador” no que toca a doces e portanto se a sobremesa não for adequada às minhas expectativas a refeição poderá não ser tão boa como esperava. Na Marisqueira Ribamar, felizmente que isso não acontece já que existem várias alternativas para rematar da melhor maneira uma refeição. Contudo destacaria o Sorvete de Limão e mais não digo, experimentem!

Restaurante: Marisqueira Ribamar
Morada: Estrada Nacional 247, 57 Santo Isidoro – Mafra
Tipo – Peixe e Marisco
Preço – Para marisco não é muito caro e varia consoante o tipo que se comer – 22,00€ a 30,00€ por pessoa (preço ponderado para uma mariscada simples, bebida, entradas, e sobremesas)
Observações – Além do restaurante os donos dispõem de um aldeamento turístico.

Luís Sá

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Irmãos Rocha


A escolha do primeiro post é sempre de difícil digestão. Os motivos são diversos: o que escrever, como escrever, qual o restaurante escolhido entre outros. Como em muitas coisas na vida decidi não ligar o “complicometro” lembrei-me dos Irmãos Rocha, restaurante situado em Lisboa ali para os lados de Alvalade, mais concretamente na Rua Reinaldo Ferreira 14. Local ideal para um almoço entre colegas de trabalho e desfrutar da comida tradicional portuguesa. Não é o melhor local para uma “refeição de trabalho” pois por norma os Irmãos Rocha estão sempre “à pinha” e o barulho naquelas salas por vezes faz-nos pensar que estamos num concerto qualquer.
A entrada passa despercebida ao mais distraído já que é muita discreta e sem nenhum indicação visível do espaço maravilhoso que é, com uma porta de alumínio um pouco sem gosto e feia. Já dentro do templo da tentação encontramos um balcão e uma sala que por norma costuma ser a mais sossegada de todos e somos simpaticamente encaminhados para um corredor que vai dar a outras salas, estas sim, ruidosas e cheias de pessoas a comer. Nesse corredor de acesso deparamo-nos com a cozinha do nosso lado direito. Um conselho muito importante; enquanto esperam pela vossa vez e se estiverem nesse corredor não olhem para a cozinha, especialmente se tiverem muita fome, pois é uma autêntica tortura, já que a comida passa à nossa frente como que uma mulher a provocar os sentidos mais primários deste pobre homem. Depois de sentarmos confortavelmente no nosso lugar somos atendidos com alguma rapidez e sem “frescura” até porque estamos ali para comer. Feijoada à transmontana divinal, Cozido à Portuguesa uma delícia entre outras iguarias onde destaco o Polvo e o Cozido de Carnes com todos aqueles enchidos que me fazem ficar nas nuvens. Tudo isto acompanhado com um bom vinho e finalizado com uma sobremesa onde se destacam os pasteis de nata (são bons mas não é a minha especialidade) e o pudim molotof onde numa terrina à parte está o doce de ovos que é colocado posteriormente sobre a montanha de clara de ovos (carrega!!!).
Depois disto tudo o preço final é “simpático” e a despedida daquele local de culto é feito com um até breve, pois nunca se diz adeus aos Irmãos Rocha.
Resumo:
Restaurante – Irmãos Rocha:
Morada: Rua Reinaldo Ferreira, 14 (Alvalade, perto da Avenida do Brasil – mais perto da Rotunda do Relógio.
Tipo – Comida tradicional Portuguesa
Preço – Moderado entre 12,00€ a 20,00€
Observações: Não Fumadores

Luís Sá





El Capricho - O Prazer da Carne


Eu apreciador da carne me confesso, sim o peixe para mim é sempre segunda opção (apesar de já por algumas vezes o mesmo ter ganho algumas batalhas), neste meu primeiro post vou trazer ao de cima as minhas raízes espanholas.
O restaurante que vos apresento é mais que um restaurante, é uma espécie de local de culto para os apreciadores de carne.
Localizado na província de Castilha Léon, em la Bañeza, mais precisamente numa pequena aldeia de seu nome  Jiménez de Jamuz,  o restaurante encontrasse dentro de Las Cuevas, locais labirínticos criados pelos habitantes locais, onde era guardado o vinho, azeite e os enchidos.
Na entrada podemos encontrar um espaço amplo e um bar, onde podemos aguardar enquanto somos chamados para entrar pelo labiríntico local, e é aqui que começa a grande peregrinação do manjar, composta por um corredor, repleto de arcadas onde se dispões mesas em madeira, prontas a serem ocupadas pelos comensais, e ao fundo um espaço mais largo onde o encanto aumenta.
A beleza do local é o ponto de partida, fiquei rendido e conquistado, mesmo sem ainda ter feito absolutamente nada em relação ao objectivo que me tinha proposto.
A simpatia dos funcionários é regra da casa, cordialmente recebidos de forma informal, sem os floriados que por vezes caracterizam alguns restaurantes e que na maioria dos casos chegam a ser extremamente fatigantes para quem gosta de que o acto de comer seja o mais relaxado e informal possível. Éramos quatro comensais, o funcionário encarregado da nossa mesa abriu as hostilidades de forma jovial e simpática, prontamente assumi que aqui se iniciava a parte mais delicada do acto de comer, com um cardápio que me era apresentado e brilhantemente explicado, coloquei todos os sentidos em busca da escolha perfeita, uma escolha difícil, e que foi a seguinte:
Entradas:
Cogumelos de época, com gambas e salteados em azeite
Cecina de Buey (Carne de Boi fumada e dissecada)
Após estas magníficas entradas veio a grande decisão, o prato principal, e aqui a escolha é só uma, a carne, apesar de poder encontrar pratos de peixe, pessoalmente acho uma heresia, no entanto aceito-a, ignorando a mesma. Aquilo que nos levou a este restaurante foi a leitura de um artigo do “The Guardian” e o outro do “Time” que considerou que era neste local que se comia a melhor carne do mundo, algo que queríamos comprovar pessoalmente. A escolha recaiu no “Chuleton de buey el capricho”, e aqui quero chamar a vossa atenção, a este restaurante vai-se para comer carne de Boi, a carne de vaca pode também ter uma boa qualidade, mas é uma carne que se pode encontrar facilmente, e bem apresentada em vários restaurantes, a de Boi já é bem diferente, além de muitos terem a tendência de nos levar ao engano. E a diferença reside na sua escassez, no tratamento que lhe é conferido e obviamente no preço. Esta carne de Boi, provém de um Boi de trabalho, que é adquirido normalmente em feiras ou a particulares em terras Galhegas (e também no norte de Portugal), após uma análise metódica do mestre José Gordon, as seleccionadas têm o privilégio de um descanso de 3 anos.
O chuleton é apresentado pelo mestre e obreiro da casa, José Gordon, a apresentação do produto é breve mas intensa, por alguém que é mais que um assador de carnes (é um apaixonado estudioso da mesma,) a peça de 2,800 kg, provém de um buey de trabalho com 14 anos, a carne foi maturada durante 90 dias em câmara.
A carne é devidamente cortada pelo mestre, e até o corte é especial, porque a forma do mesmo difere, dependendo da parte que se encontra a cortar, inclusive a gordura é aproveitada e foi alvo de análises que nos dizem que têm qualidades excepcionais.
E o grande momento é o da degustação, a carne é divinal, de fazer escorrer água na boca, um sabor esquisitíssimo, derrete-se na boca e eleva os sentidos para uma outra dimensão, com um acompanhamento leve de legumes salteados (que aqui ocupam um espaço menor).
Não sei se será a melhor carne do mundo, mas é certamente umas das melhores iguarias que a natureza nos dá, tornando este momento num culto ao prazer carnal.
Toda esta experiência foi acompanhada por um vinho da região, um crianza prieto picudo, recomendado pelo funcionário (um vinho que cumpre, não sendo muito do meu agrado), a lista de vinhos é considerável e vai desde as várias regiões espanholas, como Ribera del Duero e Rioja, e alguns vinhos franceses.
As sobremesas são agradáveis, no meu caso provei uma Leche Frita e uma tarte de três chocolates, a compartir.
A acompanhar o café (espanhol, ou seja, de má qualidade, para o gosto português), e como não podia deixar de ser um licor de hierba buena, oferta da casa.
No final e após um agradecimento ao Mestre a despedida foi um até breve, porque vale mesmo a pena.
Uma informação importante e que tem que ser partilhada, o preço! Para 4 pessoas 70 euros por cabeça, mas não é todos os dias que se come a melhor carne do Mundo.

Localização: Jiménez de Jamuz,  La Bañeza, Léon
Preço médio: 70 euros
Observação: convém fazer reserva

António Fantasia
Agradecimentos : Ao José Hervalejo (principal impulsionador da visita), Alejandro Ferreira e Iván Silva.

Nota do autor: Este foi um post especial, o espaço merecia uma reflexão mais poética e menos pragmática.