Eu apreciador da carne me confesso, sim o peixe para mim é sempre segunda opção (apesar de já por algumas vezes o mesmo ter ganho algumas batalhas), neste meu primeiro post vou trazer ao de cima as minhas raízes espanholas.
O restaurante que vos apresento é mais que um restaurante, é uma espécie de local de culto para os apreciadores de carne.
Localizado na província de Castilha Léon, em la Bañeza, mais precisamente numa pequena aldeia de seu nome Jiménez de Jamuz, o restaurante encontrasse dentro de Las Cuevas, locais labirínticos criados pelos habitantes locais, onde era guardado o vinho, azeite e os enchidos.
Na entrada podemos encontrar um espaço amplo e um bar, onde podemos aguardar enquanto somos chamados para entrar pelo labiríntico local, e é aqui que começa a grande peregrinação do manjar, composta por um corredor, repleto de arcadas onde se dispões mesas em madeira, prontas a serem ocupadas pelos comensais, e ao fundo um espaço mais largo onde o encanto aumenta.
A beleza do local é o ponto de partida, fiquei rendido e conquistado, mesmo sem ainda ter feito absolutamente nada em relação ao objectivo que me tinha proposto.
A simpatia dos funcionários é regra da casa, cordialmente recebidos de forma informal, sem os floriados que por vezes caracterizam alguns restaurantes e que na maioria dos casos chegam a ser extremamente fatigantes para quem gosta de que o acto de comer seja o mais relaxado e informal possível. Éramos quatro comensais, o funcionário encarregado da nossa mesa abriu as hostilidades de forma jovial e simpática, prontamente assumi que aqui se iniciava a parte mais delicada do acto de comer, com um cardápio que me era apresentado e brilhantemente explicado, coloquei todos os sentidos em busca da escolha perfeita, uma escolha difícil, e que foi a seguinte:
Entradas:
Cogumelos de época, com gambas e salteados em azeite
Cecina de Buey (Carne de Boi fumada e dissecada)
Após estas magníficas entradas veio a grande decisão, o prato principal, e aqui a escolha é só uma, a carne, apesar de poder encontrar pratos de peixe, pessoalmente acho uma heresia, no entanto aceito-a, ignorando a mesma. Aquilo que nos levou a este restaurante foi a leitura de um artigo do “The Guardian” e o outro do “Time” que considerou que era neste local que se comia a melhor carne do mundo, algo que queríamos comprovar pessoalmente. A escolha recaiu no “Chuleton de buey el capricho”, e aqui quero chamar a vossa atenção, a este restaurante vai-se para comer carne de Boi, a carne de vaca pode também ter uma boa qualidade, mas é uma carne que se pode encontrar facilmente, e bem apresentada em vários restaurantes, a de Boi já é bem diferente, além de muitos terem a tendência de nos levar ao engano. E a diferença reside na sua escassez, no tratamento que lhe é conferido e obviamente no preço. Esta carne de Boi, provém de um Boi de trabalho, que é adquirido normalmente em feiras ou a particulares em terras Galhegas (e também no norte de Portugal), após uma análise metódica do mestre José Gordon, as seleccionadas têm o privilégio de um descanso de 3 anos.
O chuleton é apresentado pelo mestre e obreiro da casa, José Gordon, a apresentação do produto é breve mas intensa, por alguém que é mais que um assador de carnes (é um apaixonado estudioso da mesma,) a peça de 2,800 kg, provém de um buey de trabalho com 14 anos, a carne foi maturada durante 90 dias em câmara.
A carne é devidamente cortada pelo mestre, e até o corte é especial, porque a forma do mesmo difere, dependendo da parte que se encontra a cortar, inclusive a gordura é aproveitada e foi alvo de análises que nos dizem que têm qualidades excepcionais.
E o grande momento é o da degustação, a carne é divinal, de fazer escorrer água na boca, um sabor esquisitíssimo, derrete-se na boca e eleva os sentidos para uma outra dimensão, com um acompanhamento leve de legumes salteados (que aqui ocupam um espaço menor).
Não sei se será a melhor carne do mundo, mas é certamente umas das melhores iguarias que a natureza nos dá, tornando este momento num culto ao prazer carnal.
Toda esta experiência foi acompanhada por um vinho da região, um crianza prieto picudo, recomendado pelo funcionário (um vinho que cumpre, não sendo muito do meu agrado), a lista de vinhos é considerável e vai desde as várias regiões espanholas, como Ribera del Duero e Rioja, e alguns vinhos franceses.
As sobremesas são agradáveis, no meu caso provei uma Leche Frita e uma tarte de três chocolates, a compartir.
A acompanhar o café (espanhol, ou seja, de má qualidade, para o gosto português), e como não podia deixar de ser um licor de hierba buena, oferta da casa.
No final e após um agradecimento ao Mestre a despedida foi um até breve, porque vale mesmo a pena.
Uma informação importante e que tem que ser partilhada, o preço! Para 4 pessoas 70 euros por cabeça, mas não é todos os dias que se come a melhor carne do Mundo.
Localização: Jiménez de Jamuz, La Bañeza, Léon
Preço médio: 70 euros
Observação: convém fazer reserva
António Fantasia
Agradecimentos : Ao José Hervalejo (principal impulsionador da visita), Alejandro Ferreira e Iván Silva.
Nota do autor: Este foi um post especial, o espaço merecia uma reflexão mais poética e menos pragmática.
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